quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

PR. CLAUDIO DUARTE RUTE DE PEBLÉIA A PRINCESA - RUTE 1 1 13 - CO...

"Uma marca cristã desprezada"

A Bíblia aponta-nos vários dos nossos deveres como cristãos e como membros do corpo local: 

- Orar uns pelos outros [Tg 5.13-16];

- Exortar e edificar uns aos outros [1Ts 5.11, Hb 3.12-14] - Exortar é uma palavra que traz vários significados, como: Aconselhar, persuadir; animar, encorajar, incitar; sempre em relação à uma vida de fé genuína e santa ao serviço de Deus;

- Levar as cargas uns dos outros [Gl 6.2];

- Sujeitar-nos uns aos outros [Ef 5.14-21]. 

Estes são princípios estabelecidos por Deus para que o seu povo caminhe em unidade e santidade, cumprindo o mandamento do Senhor de amar ao próximo como a si mesmo. Na verdade, o ensino que temos é até superior, de amar o próximo mais do que a nós mesmos, pois foi assim que Cristo agiu ao entregar-se por nós. Ele nos amou com um amor superior, levando-o à cruz para que fôssemos libertos do pecado e condenação, a morte eterna e definitiva. Devemos ter em mente sempre o outro, especialmente o irmão, caminhando com ele, lado a lado, em meio às tribulações, tristezas, sofrimentos e dores que o mundo nos infringe, sustentando-nos mutuamente. Por isso somos admoestados a orar, exortar, instruir-nos reciprocamente; a carregarmos os fardos duros e pesados uns dos outros, de forma que ele se torne mais leve para o irmão, o qual também auxiliar-nos-á a diminuir o peso das nossas cargas.

Sabemos que é pelo poder de Cristo, por sua bondade e misericórdia, que recebemos o consolo e o alívio nas atribulações, pois, sem ele, nada seríamos ou poderíamos realizar. Contudo, é estimulante saber que os irmãos se interessam pelo nosso sofrimento e dores, e esteja, cada um segundo o dom que o Senhor dá, disposto a reconhecê-las como também suas, já que os membros colaboram, cada um, para o bem do corpo. Creio que o Senhor nos deu essas orientações para não nos preocuparmos além da conta, além do necessário, com os nossos problemas, também. Este é o caráter pedagógico do auxílio, não nos deixar entristecer exageradamente, mais do que a tristeza convém e, de certa forma, alegrar-nos no zelo e sustento para com o irmão aflito [parece contraditório, mas o sofrimento do outro pode nos "tirar" do círculo vicioso em que muitas vezes nos encontramos, em meio aos problemas triviais e corriqueiros do dia-a-dia. E a nossa tristeza com a aflição alheia pode tornar-se na alegria dele, de não se reconhecer sozinho e abandonado em sua luta, fortalecendo-o, de forma que ele também nos fortalecerá. Na física esse princípio seria chamado de "lei da ação e reação", em que o amor e a piedade atribuídas retornam-nos de forma equivalente]. 

Acredito que esses são pontos que não suscitam muitos debates, gerando divergências. Normalmente são esquecidos ou relegados ao nível do desinteresse, seja por considerá-lo algo trivial, reles, sem muita importância, ou por certa soberba de se achar que já o alcançou e de que as etapas a serem vencidas são outras. Ledo engano! Em um mundo cada vez mais individualista e rebelde, a igreja também tem se individualizado e se rebelado contra os preceitos divinos. Igualmente, cada vez mais, os crentes se consideram autônomos e donos dos seus narizes, de forma que o sustento, auxilio e piedade se tornam escassos, quase invisíveis. Não que devemos alardear aos quatro cantos o auxílio ou consolo ou sustento que devotamos ao próximo, mas é que o próprio estado de coisas tem revelado o quão distantes estamos de viver uma vida verdadeiramente cristã, aos moldes bíblicos. Quase ninguém se interessa mais por uma prática cristã, no sentido de fidelidade à Escritura e de dar os frutos que o Espírito produz no homem regenerado. Os holofotes estão ligados e cada um quer a sua porção de luz, sem se preocupar em ser ele próprio a luz. Muitos reduzem a vida cristã a falar de Cristo para as pessoas, e eu já vi incrédulos repetirem versículos, referirem-se a Jesus, como muito crente não é capaz de fazer. Mas, então, tem-se um detalhe: ele fala bem, até mesmo com probidade e correção, mas a sua vida pessoal não espelha sequer um milímetro do que diz. E é este o ponto principal do qual não podemos nos esquecer, e do qual o Senhor alertou-nos: pode uma árvore má dar frutos bons e vice-versa? [Mt 7.17-20]. 

A parábola dos talentos assevera mais fortemente este ponto [Mt 25.14-30 cf. Lc 12.42-48]; no sentido de que somos mordomos do que Deus nos dá, e quanto mais ele nos dá, mais devemos honrá-lo, produzindo os frutos proporcionais à sua dádiva. Ou seja, somos ordenados a cuidar com amor, empenho e dedicação de tudo o que dispomos e que nos foi ofertado graciosamente. Não fazê-lo implicará em omissão, negligência e desobediência, resultando na ordem que o Senhor profere: "Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado". 

Assim devemos proceder em tudo, na vida pessoal, profissional, e na igreja. Há os que pensam ser possível uma vida aparente ou "mínima" no corpo de Cristo. Penso que se enganam a si mesmos os que assim agem. A vida cristã tem de ser intensa em seu zelo, amor, e em produzir os frutos para a glória de Deus. É claro que tudo isso é proporcional ao que Deus nos deu e capacitou-nos a gerir. Ele não dará mais do que podemos suportar, como está escrito: "Não veio sobre vós tentação senão humana, mas fiel é Deus que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar" [1Co 10.13]. O verso se refere diretamente à tentação para o pecado, mas podemos, por princípio, levá-lo a todos os aspectos da vida, pois Deus não dá um fardo maior do que podemos carregar, já que, com o fardo, nos dá juntamente os meios de suportá-lo.

Voltando à parábola dos talentos, um servo ganhou cinco talentos, enquanto o outro dois, e o último um. Quando o Senhor voltou, os servos foram prestar-lhe contas. O primeiro devolveu-lhe dez talentos, o segundo quatro, e o último o mesmo talento que recebeu. Ou seja, este não soube o que fazer com o que Deus lhe dera, não soube aplicar o seu dom, ao contrário dos demais. Por isso foi reconhecido como mau e negligente servo, e lhe foi tirado o dom. A parábola nos remete a reconhecer Deus como o doador de tudo, inclusive dos nossos talentos e dons. Aquele que não sabe aplicá-los correta e convenientemente é como se não os tivesse; como um cego que quer ver ou um surdo que quer ouvir, com o agravante de que ele tem olhos e ouvidos bons, mas não sabe usá-los ou não os quer usar [Rm 12.4-8]. 

Na igreja do Senhor, devemos sempre buscar o melhor para nós e os demais irmãos e sermos o melhor que podemos ser, inclusive para nós mesmos, sem nos esquecer de que maior amor tem aquele que dá a vida por seu irmão. Parece um refrão de um cântico antigo ou um slogan, mas para nós tem de ser uma bandeira pela qual vivamos. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Alteração Código de Trânsito

Confira Quais Infrações de Trânsito Ganharam Punições mais Rígidas e Multas mais Altas.

 

Motoristas que forçarem ultrapassagem perigosa, realizarem manobras bruscas e forem pegos disputando rachas deverão arcar com multas até 10 vezes maiores.

 

Desde o dia 1º de novembro, a lei e as punições para 11 infrações e crimes de trânsito ficaram mais rígidas. A partir de agora, o motorista que forçar uma ultrapassagem perigosa, por exemplo, além de ter a carteira de habilitação suspensa, precisará desembolsar R$ 1.915,40, valor que é dez vezes maior (R$ 191,54). Segundo Daniel Annenberg, presidente do Detran SP, o endurecimento na lei foi necessário para reduzir o número de mortes e acidentes graves no trânsito. “Aumentar o valor da multa e intensificar a pena em algumas situações influenciam a mudança de comportamento no trânsito, punindo com mais rigor os condutores que desrespeitam as leis”, afirmou.
Confira o que mudou:

1) Artigo 173 – Disputar corrida por espírito de emulação (racha):
Infração: gravíssima (7 pontos)
Penalidade: multa, suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo
Valor atual: R$ 1.915,40 ( antes a multa era de R$ 574,62)

2) Artigo 174 – Promover ou participar competição, eventos organizados, exibição e demonstração de perícia em manobra de veículo em via pública sem autorização das autoridades
Infração: gravíssima (7 pontos)
Penalidade: multa, suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo
Valor atual: R$ 1.915,40 ( antes a multa era de R$ 957,70)

3) Artigo 175 - Utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir manobra perigosa, mediante arrancada brusca, derrapagem ou frenagem com deslizamento ou arrastamento de pneus
Infração: gravíssima ( 7 pontos)
Penalidade: multa, suspensão do direito de dirigir e apreensão do veículo
Valor atual: R$ 1.915,40 ( antes a multa era de R$ 191,54)

4) Artigo 191 – Forçar passagem entre veículos que, transitando em sentidos opostos, estejam na iminência de passar um pelo outro ao realizar operação de ultrapassagem:
Infração: gravíssima (7 pontos)
Penalidade: multa e suspensão do direito de dirigir
Alteração no valor: R$ 1.915,40 ( antes a multa era de R$ 191,54)

5) Artigo 202 – Ultrapassar outro veículo pelo acostamento ou em interseções e passagens de nível
Infração: gravíssima (7 pontos) Antes era considerada grave (5 pontos)
Penalidade: multa
Alteração no valor: R$ 957,70 ( antes a multa era de R$ 127,69)

6) Artigo 203 - Ultrapassar pela contramão outro veículo
Infração: gravíssima (7 pontos)
Penalidade: multa
Alteração no valor: R$ 957,70 ( antes era R$ 191,54)







sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"Uma marca cristã desprezada"

A Bíblia aponta-nos vários dos nossos deveres como cristãos e como membros do corpo local: 

- Orar uns pelos outros [Tg 5.13-16];

- Exortar e edificar uns aos outros [1Ts 5.11, Hb 3.12-14] - Exortar é uma palavra que traz vários significados, como: Aconselhar, persuadir; animar, encorajar, incitar; sempre em relação à uma vida de fé genuína e santa ao serviço de Deus;

- Levar as cargas uns dos outros [Gl 6.2];

- Sujeitar-nos uns aos outros [Ef 5.14-21].

Estes são princípios estabelecidos por Deus para que o seu povo caminhe em unidade e santidade, cumprindo o mandamento do Senhor de amar ao próximo como a si mesmo. Na verdade, o ensino que temos é até superior, de amar o próximo mais do que a nós mesmos, pois foi assim que Cristo agiu ao entregar-se por nós. Ele nos amou com um amor superior, levando-o à cruz para que fôssemos libertos do pecado e condenação, a morte eterna e definitiva. Devemos ter em mente sempre o outro, especialmente o irmão, caminhando com ele, lado a lado, em meio às tribulações, tristezas, sofrimentos e dores que o mundo nos infringe, sustentando-nos mutuamente. Por isso somos admoestados a orar, exortar, instruir-nos reciprocamente; a carregarmos os fardos duros e pesados uns dos outros, de forma que ele se torne mais leve para o irmão, o qual também auxiliar-nos-á a diminuir o peso das nossas cargas.

Sabemos que é pelo poder de Cristo, por sua bondade e misericórdia, que recebemos o consolo e o alívio nas atribulações, pois, sem ele, nada seríamos ou poderíamos realizar. Contudo, é estimulante saber que os irmãos se interessam pelo nosso sofrimento e dores, e esteja, cada um segundo o dom que o Senhor dá, disposto a reconhecê-las como também suas, já que os membros colaboram, cada um, para o bem do corpo. Creio que o Senhor nos deu essas orientações para não nos preocuparmos além da conta, além do necessário, com os nossos problemas, também. Este é o caráter pedagógico do auxílio, não nos deixar entristecer exageradamente, mais do que a tristeza convém e, de certa forma, alegrar-nos no zelo e sustento para com o irmão aflito [parece contraditório, mas o sofrimento do outro pode nos "tirar" do círculo vicioso em que muitas vezes nos encontramos, em meio aos problemas triviais e corriqueiros do dia-a-dia. E a nossa tristeza com a aflição alheia pode tornar-se na alegria dele, de não se reconhecer sozinho e abandonado em sua luta, fortalecendo-o, de forma que ele também nos fortalecerá. Na física esse princípio seria chamado de "lei da ação e reação", em que o amor e a piedade atribuídas retornam-nos de forma equivalente].

Acredito que esses são pontos que não suscitam muitos debates, gerando divergências. Normalmente são esquecidos ou relegados ao nível do desinteresse, seja por considerá-lo algo trivial, reles, sem muita importância, ou por certa soberba de se achar que já o alcançou e de que as etapas a serem vencidas são outras. Ledo engano! Em um mundo cada vez mais individualista e rebelde, a igreja também tem se individualizado e se rebelado contra os preceitos divinos. Igualmente, cada vez mais, os crentes se consideram autônomos e donos dos seus narizes, de forma que o sustento, auxilio e piedade se tornam escassos, quase invisíveis. Não que devemos alardear aos quatro cantos o auxílio ou consolo ou sustento que devotamos ao próximo, mas é que o próprio estado de coisas tem revelado o quão distantes estamos de viver uma vida verdadeiramente cristã, aos moldes bíblicos. Quase ninguém se interessa mais por uma prática cristã, no sentido de fidelidade à Escritura e de dar os frutos que o Espírito produz no homem regenerado. Os holofotes estão ligados e cada um quer a sua porção de luz, sem se preocupar em ser ele próprio a luz. Muitos reduzem a vida cristã a falar de Cristo para as pessoas, e eu já vi incrédulos repetirem versículos, referirem-se a Jesus, como muito crente não é capaz de fazer. Mas, então, tem-se um detalhe: ele fala bem, até mesmo com probidade e correção, mas a sua vida pessoal não espelha sequer um milímetro do que diz. E é este o ponto principal do qual não podemos nos esquecer, e do qual o Senhor alertou-nos: pode uma árvore má dar frutos bons e vice-versa? [Mt 7.17-20].

A parábola dos talentos assevera mais fortemente este ponto [Mt 25.14-30 cf. Lc 12.42-48]; no sentido de que somos mordomos do que Deus nos dá, e quanto mais ele nos dá, mais devemos honrá-lo, produzindo os frutos proporcionais à sua dádiva. Ou seja, somos ordenados a cuidar com amor, empenho e dedicação de tudo o que dispomos e que nos foi ofertado graciosamente. Não fazê-lo implicará em omissão, negligência e desobediência, resultando na ordem que o Senhor profere: "Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado".

Assim devemos proceder em tudo, na vida pessoal, profissional, e na igreja. Há os que pensam ser possível uma vida aparente ou "mínima" no corpo de Cristo. Penso que se enganam a si mesmos os que assim agem. A vida cristã tem de ser intensa em seu zelo, amor, e em produzir os frutos para a glória de Deus. É claro que tudo isso é proporcional ao que Deus nos deu e capacitou-nos a gerir. Ele não dará mais do que podemos suportar, como está escrito: "Não veio sobre vós tentação senão humana, mas fiel é Deus que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar" [1Co 10.13]. O verso se refere diretamente à tentação para o pecado, mas podemos, por princípio, levá-lo a todos os aspectos da vida, pois Deus não dá um fardo maior do que podemos carregar, já que, com o fardo, nos dá juntamente os meios de suportá-lo.

Voltando à parábola dos talentos, um servo ganhou cinco talentos, enquanto o outro dois, e o último um. Quando o Senhor voltou, os servos foram prestar-lhe contas. O primeiro devolveu-lhe dez talentos, o segundo quatro, e o último o mesmo talento que recebeu. Ou seja, este não soube o que fazer com o que Deus lhe dera, não soube aplicar o seu dom, ao contrário dos demais. Por isso foi reconhecido como mau e negligente servo, e lhe foi tirado o dom. A parábola nos remete a reconhecer Deus como o doador de tudo, inclusive dos nossos talentos e dons. Aquele que não sabe aplicá-los correta e convenientemente é como se não os tivesse; como um cego que quer ver ou um surdo que quer ouvir, com o agravante de que ele tem olhos e ouvidos bons, mas não sabe usá-los ou não os quer usar [Rm 12.4-8].

Na igreja do Senhor, devemos sempre buscar o melhor para nós e os demais irmãos e sermos o melhor que podemos ser, inclusive para nós mesmos, sem nos esquecer de que maior amor tem aquele que dá a vida por seu irmão. Parece um refrão de um cântico antigo ou um slogan, mas para nós tem de ser uma bandeira pela qual vivamos.

Este preâmbulo tem o objetivo de se chegar a dois outros pontos, que considero mais polêmicos e problemáticos dentro da igreja:

1) A autoridade eclesiástica – [1Ts 5.12-13, Hb 13.17]. Os oficiais da igreja governam não para si mesmos, nem a partir de autoridade própria, mas a autoridade investida por Deus, como servos [1Pe 5.1-5, conf Mt 20.26-27];

2) Sustento pastoral - 1Tm 5.17; Lc 10.7; At 28.8-10.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Como e porque Bartimeu ficou cego?

O cego Bartimeu filho de Timeu, um General israelita aposentado

As informações sobre o pai de Bartimeu não encontramos nos evangelhos, mas podemos obte-las do historiador Flávio Josefo que justificam a referência paterna. Timeu, pai do cego Bartimeu que foi curado por Jesus foi um General que servia a Israel na unidade militar de Betel e que se aposentando do serviço militar tornou-se um cidadão bem sucedido na região, um forte comerciante. Com a chegada dos Romanos na Palestina aconteceu que seus bens foram confiscados e o soldo da aposentadoria cortado.
De cidadão bem sucedido torna-se um revoltoso. Pela formação militar que possuía liderou várias movimentos revoltosos contra os romanos e propunha desestabilizar o governo romano na região.
O contingente militar romano na região o identifica como uma pessoa perigosa à ocupação romana na Palestina. Em resumo Timeu foi perseguido, preso e morto crucificado por causa da organização de revoltas na região. Após a morte de Timeu, o mal passa para o filho e os romanos mandam arrancar os olhos de Bartimeu para evitar que se tornasse um revoltoso tão perigoso como foi seu pai.
A crucificação dos contrários a ocupação Romano era um expediente muito praticada e um grande número de pessoas foram mortas. Como também era comum eliminar os filhos homens ou torná-los deficientes para que não seguissem o exemplo de seus pais, tornar os filhos cegos de pais revoltosos era muito comum. Passavam a ser um exemplo vivo, “não sigam o exemplo de Timeu.

www.abiblia.org 


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Os Pentecostais e o Pentecostes - parte 1.

Na última noite de sua vida em carne, ao concluir a celebração da Páscoa, estendeu-se Jesus a falar aos discípulos. E fez-lhes a promessa! A Promessa do Consolador.
Anunciara-lhes a traição de Judas, a negação de Pedro, a fuga de todos eles... Recordara-lhes a sua Paixão e Morte. E naquele ambiente pesado de tristeza, prometeu-lhes:
" E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós" (Jo 14:16,17).
Em recebendo o Paracletos, eles teriam a certeza que Jesus estaria com o pai.
O porque do Consolador:
Os discípulos não podiam entender a morte de Jesus. Quando sobre ela lhes falara pela primeira vez, repreendeu-o Pedro (Mt 16:21-23). Não a compreendiam por serem "néscios e tardos de coração" (Lc 24:25).
Se não conseguiam compreender a morte de Jesus, o escândalo da cruz deixava-os perplexos. Alias, naqueles tempos o patíbulo do madeiro era o cúmulo da execração
pública reservado aos escravos e aos piores facínoras. Tão infamante que a lei de Roma impedia ser nele cravado o cidadão romano por maior criminoso que fosse. " o pendurado é maldito de Deus", sentenciava Dt 21:23.
A crucificação se constituía o extremo da vergonha e do aviltamento. Dizer-se da família de um crucificado era expor-se ao desprezo. Apresentar-se como seguidor de um mestre crucificado implicava em se arriscar ao ridículo máximo.
Destarte impossível entrar na mente dos discípulos de Jesus a idéia de sua crucificação. Ausentaram do calvário não só or medo, mais também por vergonha.
Jesus dependurado no madeiro para eles se reduzira em suprema tragédia.
Discípulos de um crucificado!!! O cúmulo do sarcasmo...
E testificar de um crucificado que ressuscitara?
Compunham-se os saduceus, predominantes no Sinédrio, em fortíssimo partido do qual participava o próprio sumo sacerdote e negavam eles a ressurreição dos mortos.
Só com um extraordinário dinamismo intimo poderiam eles enfrentar os gravíssimos obstáculos e, ousados, anunciar o nome do crucificado e a sua ressurreição.

Para se imporem precisavam de um poder incomum. É este extraordinário poder do alto prometido por Jesus.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Os "sem-igrejas" e a heresia da não sujeição

A primeira pergunta que se tem de responder é: o que é igreja? O que os irmãos entendem por igreja?

Há os que consideram-na apenas como uma construção, um edifício, e nada mais do que isso. Há os que a têm por denominação, como uma instituição meramente humana, onde um grupo de pessoas se reúnem  para professarem algum tipo de fé.  Pode ainda ser utilizada para distinguir homens religiosos de não religiosos. Em todos esses aspectos terminológicos, e ainda em outros mais, o vocábulo igreja pode ser reduzido, o que acabaria por não configurar o seu significado verdadeiro. De certa forma, os termos aos quais ele é mitigado obscurece-o, não definindo a sua real essência e o seu correto entendimento bíblico.

A primeira lembrança que nos vem à mente é de que a igreja é o corpo de Cristo. Esta é claramente a imagem que se descortina na mente do crente. Ele, como membro, faz parte desse corpo, sendo portanto, parte da igreja. Muitos afirmam que são a igreja, mas ela não é constituída por um único membro, mas por milhões deles, o que configura um ajuntamento, um agrupamento de pessoas atraídas por um mesmo chamado: aquele que eficazmente Deus produz no homem, de forma que não se pode resistir nem rejeitá-lo. Este é o chamado ao arrependimento, à regeneração, na qual o homem natural se transforma em espiritual, de perdido a salvo, de condenado a inocente; não por algum mérito que haja em si mesmo, mas por aquilo que Deus realiza nele, por meio da obra redentora do Senhor Jesus Cristo.

Assim, essa é uma qualidade da igreja, a de ser um organismo, o que o corpo nitidamente é. Como organismo, a igreja é o corpo místico de Cristo [1Co 12.12-13], o qual é a cabeça, que guiará o corpo em todo o cumprimento da sua vontade; um povo escolhido para levar até os confins da terra o seu santo e bendito nome [At  15.14]. De forma que a palavra grega "eclesia", cuja tradução para o português é igreja, tem um significado muito mais abrangente, daqueles que são "chamados para fora", dentre as nações, ao nome do Senhor Jesus,  para constituírem uma comunidade, uma assembleia, na qualidade de seguidores de Cristo, chamados "cristãos", a fim de obedecerem aos princípios por ele estabelecidos. A essa qualidade da igreja, podemos chamá-la de organização.

O que muitos cristãos esquecem-se é de que a igreja não é apenas um corpo místico como pensam,  o que é comumente chamado de "igreja universal",  mas de que ela foi instituída por Deus tanto como igreja universal como igreja local. Essa doutrina de que a igreja local, como organização não tem o respaldo bíblico é uma falácia. Basta ver que os irmãos em Atos dos Apóstolos estabeleceram igrejas locais,  suas prioridades, designaram cargos, funções, como diáconos, pastores, bispos, presbíteros, etc. O próprio apóstolo Paulo fala nos dons que Deus deu a cada um dos membros, e de que esses membros trabalhariam em harmonia a fim de que o corpo funcionasse em concórdia, não em discórdia; a ordem do culto, como os irmãos deveriam se portar na ceia do Senhor, e muitas outras recomendações foram estabelecidas para uma igreja que se reúne, congrega, e tem comunhão efetivas. Logo a ideia do crente solitário, isolado, que assiste a prédicas pela TV, que acredita fazer parte de uma igreja virtual através das redes sociais, que ceia via satélite, simplesmente não existe. Com isso, não estou a dizer que não é possível ter comunhão com um irmão distante, do outro lado do globo, por exemplo, mas que isso não é o suficiente e não torna o trato virtual em um tipo de igreja. É-se necessário que exista o corpo local, e de que os cristãos sejam partícipes dele, a fim de realizarem a obra que o Senhor nos deu a fazer, em ordem, decência, e sob os cuidados dos irmãos, de maneira que todos estejam participando ativamente e não sejam meros espectadores. Muitos não valorizam o trabalho eclesiástico por desconhecê-lo. Desprezam-no com argumentos particulares e que atribuem ao geral, como se não houvesse exceções. Se há apostasia, heresia, mau-uso do dinheiro, despotismo, má-fé, e outros pecados, eles não podem ser imputados a todo o corpo local. Tal atitude é, além de absurda, soberba, pois demonstra, a quem a profere, um tipo de "onipresença e onisciência" da qual homem algum, por mais viajado e bem informado, é capaz de ter; esses são atributos exclusivos de Deus e de mais ninguém.

Então temos uma luta travada no próprio corpo, em que irmãos que se organizam, tal qual a igreja primitiva se organizou, são acusados de pecados que não cometeram.  É como aquela piada da mãe que vendo a água suja na banheira joga-a fora juntamente com o bebê.  O desprezo que se tem em certos grupos em relação à igreja institucional chega a ser doloso. A maioria, por desconhecer as Escrituras ou impor-lhe o seu gosto pessoal, rebelam-se ao seguirem "mestres" sem entendimento e sem o devido zelo. Muitas vezes, por terem passado "mau-bocados" em alguma igreja ou sob a direção de algum pastor ou presbítero, acreditam que todas elas, e consequentemente todos os pastores, presbíteros e diáconos, são deturpações da palavra de Deus, e obra exclusiva de satanás. Tudo bem, estou exagerando um bocado, mas já tive discussões com alguns irmãos que quase chegaram a essa afirmação, simplesmente não a concluíram nos termos em que a expus, mas o sentido estava lá, latente, pronto a se manifestar. E, por isso [as vezes o sentimento de decepção, de frustração ou de vingança] saem por aí, sem zelo, sem discernimento, sem prudência, proclamando aos quatro ventos a "heresia da igreja organizacional".

Esta semana me deparei  com a seguinte mensagem em uma comunidade virtual:

"Sabe, eu tenho uma raiva danada de quando alguém insiste em me chamar para a igreja. Não sei o que esse povo tem na cabeça, verdade! Quanto mais me chamam, mais eu me enveneno... Pela milésima vez, um colega de trabalho me convidou para um culto. Eu olhei bem para ele e disse: cara, se fosse para eu ir, já teria ido, não é! Minha mãe é beata, e vive me enchendo com essas coisas, já saí na cabeça com ela... Então, para com a ladainha, porque eu não aguento mais, muito menos ficar sentado e perder horas da minha vida com aquilo... Prefiro ver o Faustão, fazer cafuné no meu gato ou contar as estrelas no céu...Qualquer coisa é melhor do que banco de igreja!"[a]
Esta afirmação, que ganhou a concordância de outros irmãos, me parece, além de triste, infeliz, por vários motivos, mas apresentarei apenas dois:

1) A Bíblia nos ordena a honrar pai e mãe. Ora, mesmo que eles estejam equivocados em um ponto ou outro, isso não dá o direito de sermos desrespeitosos, impacientes e belicosos. Deveríamos ouvi-los e meditar no que dizem. É possível que a mãe exagere em seu cuidado e admoestação para que o filho procure uma igreja e congregue, mas, sabendo dos sérios problemas que advém da ovelha sem aprisco, se o filho soubesse, não agiria assim também com aqueles que ama? De qualquer forma, o testemunho que ele dá com a sua irritação [o que ele chamou de raiva] para com a mãe é péssimo, e depõe para a fé cristã. Outra coisa: se o chamado não é atendido por quem não se interessa a congregar, o erro é de quem chama ou de quem não atende? Se fosse assim, não haveria a ordem de Cristo para proclamar o Evangelho a toda criatura, pois o número daqueles que o rejeitam é muito maior do que os que o aceitam. Essa é outra estratégia para transferir ao outro a culpa que cabe somente a quem não quer participar do corpo local [sejam quais forem os motivos, eles não justificam tal atitude]. Apelamos para o pragmatismo quando o que acontece não é a falta de eficiência de quem chama, mas desobediência de quem rejeita. É o caso aqui, pois se todos rejeitam, devo me calar por conta da rebeldia de quem não quer ouvir?

2) Ao dizer que lhe dá nos nervos as horas perdidas no culto, e de que poderia estar descansando ou fazendo outra coisa, vem-me à mente o tipo de cristão que se está construindo, ou melhor, que se está desconstruindo. É claro que há igrejas em que o Evangelho não é pregado, pastores e presbíteros são tão tolos que não deveriam guiar nem mesmo uma manada de bois; que as músicas são tão vulgares como os piores exemplos produzidos pelo mundo; mas generalizar é cair no mesmo caso de tolice e soberba que apontei anteriormente. No mínimo deve faltar a oração, pedindo-se a Deus que lhe destine um local onde possa servi-lo verdadeiramente, cumprindo-se assim a vontade divina que instituiu, organizou e preservou a igreja durante dezenas de séculos. A ideia que se quer passar é de que nenhuma igreja presta, e de que todas representam perda de tempo. É melhor qualquer outra atividade do que estar na congregação, o que jamais deveria passar pela mente de um cristão. Atitudes assim demonstram desprezo e superioridade espiritual, além de individualismo e autossuficiência  do tipo, não preciso disso, posso muito bem viver sem isso; e como se diz por aí, dane-se o que Deus ordenou! Então, um pecado gera o outro; e, deixo a pergunta, parafraseando o apóstolo João: se não me sujeito à autoridade da igreja que vejo, como posso me sujeitar à autoridade de Deus que não vejo?

Penso que há uma guerra barulhenta dos "sem-igrejas", não com o intuito de manterem seus privilégios, mas de arregimentarem novos adeptos de uma prática que em nada se configura cristã. Os exemplos tomados são sempre os piores, nunca há nada de virtuoso a ser experimentado ou testemunhado, o que garante o direito de se difamar homens e grupos religiosos cristãos como se fossem um bando de malfeitores. Há livros, em profusão, acusando pastores de "batedores-de-carteiras", e a igreja de quadrilha ou gang, sem exceções. A esse tipo de arrogância e antipatia chegam os "gurus" dos "sem-igrejas" [e a indignação é sempre o fruto do desprezo; de forma que, sempre que nos indignamos desprezamos]. São pessoas assim que elaboram os argumentos de uma vida tão apegada aos valores mundanos que, em sua cegueira, considera-os espirituais... Sem se preocuparem com a procedência desse espírito [o "eu" gritando alto e em bom som que termos bíblico como servo, sujeição e autoridade são apenas figuras de linguagem ou alegorias].

É claro que no corpo local haverá, como o Senhor disse, o trigo e o joio, salvos e não salvos, onde aqueles trabalham para a glória de Deus, enquanto esses são empecilhos [ainda que em sua rebeldia também colaborem para a glória divina]. Não é possível dizer quem é e quem não é salvo, mas é certo poder dizer que os salvos estão entre os que se encontram sob a autoridade da igreja. Mas quanto a este ponto, falarei mais à frente, no decorrer das próximas aulas.

O fato é que a doutrina do cristão sem-igreja não tem nada de santa, nem de pureza ou piedade, nem mesmo religiosa [no sentido estrito do termo], ela, de certa forma, demonstra a incapacidade, não do corpo local mas daquele que se diz cristão, de não se sujeitar à autoridade; e penso que isso é extremamente grave. As implicações vão desde uma vida vazia, sem qualquer testemunho de fé, até erros doutrinários, chegando-se ao ápice das heresias. A maioria deles não reconhece a Bíblia em sua infalibilidade, inerrância e inspiração divina. Outros são adeptos da descontinuídade das Escrituras. Outro tanto não reconhece nenhuma autoridade humana. E quando me deparo com qualquer deles e seus discursos autônomos vislumbro uma ovelha perdida, sem rumo, desgarrada. Opõem-se a todas as formas organizacionais da igreja, mas acabam por optar por uma forma de organização, ainda que não eclesiástica, ou que pensam não ser eclesiástica. É fácil encontrá-los em sites, blogs, redes sociais e demais "ajuntamentos" modernos, em que o foco dos sermões, apologética, práticas e condutas são tão somente contrárias à igreja. Pode-se perceber que há empenho e dedicação nesses grupos, os militantes, sem nos esquecer de que mesmo os não-engajados, direta ou indiretamente são influenciados por eles, o que os torna, num sentido primário, participantes ainda que passivos [passivos na atividade grupal, mas ativos na ação, na aplicação da ideia difundida]. Apenas querem cuidar dos próprios narizes, sem responsabilidade para com o corpo, mesmo que seja o chafurdar na lama. Como já disse, não apelo para a perfeição da igreja local, mas não é possível aceitar os argumentos que os "sem-igreja" desajuizadamente querem dogmatizar. O interessante é que mesmo rejeitando um, alguns, ou todos os dogmas eclesiásticos, eles acabam por estabelecer os seus próprios, a se agruparem, e terem uma convivência como qualquer outro grupo humano. Ao apelarem para o espírito, entregam-se à carne. E, simplesmente não suportam a obediência, a fraternidade, a servidão e sujeição como marcas do cristão bíblico. Se há algo que devem fazer é se arrepender e voltarem ao Evangelho. Pois, certamente, há igrejas onde ele é pregado, a obra de Cristo é realizada, o Espírito Santo atua, e Deus é glorificado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"Marcas da Igreja Verdadeira"

Um  rápido resumo: 

  • Igreja como organismo [corpo vivo]; 
  • Igreja como organização [corpo local]; 
  • Igreja invisível e universal [todos os santos em todos os tempos];
  • Igreja visível [onde há os joio e o trigo, ainda que o trigo seja verdadeiramente a parte visível da igreja universal.
Como distinção, temos o exemplo do ladrão da cruz, que faz parte da igreja universal, a igreja espiritual que reune os crentes de todos os tempos, mas não chegou a fazer parte da igreja visível, do corpo local.

Mt 13.24-30; Mt 13.47-50; Mt 3.12


As Marcas da Igreja

1. AS MARCAS DA IGREJA EM GERAL.

PERGUNTAS: 
  • PODEMOS DIZER QUE HÁ MARCAS QUE INDIQUEM UMA VERDADEIRA IGREJA? 
  • QUAIS? 
  • ATÉ QUE PONTO ELAS SÃO NECESSÁRIAS PARA QUE SEJA PARTE DA IGREJA DE CRISTO?
a. Sentia-se pouca necessidade destas marcas quando a igreja era claramente uma só. Mas, quando surgiram as heresias, tornou-se necessário indicar certas mudanças pelas quais se pudesse reconhecer a igreja verdadeira. Enquanto a igreja crescia, cresciam também as investidas do inimigo para destruí-la. Já, à época dos apóstolos, um número grande e heresias conviviam com a sã doutrina; elas mesmas, as igrejas heréticas, se autodenominavam igrejas de Cristo, como membros do Corpo. Portanto, com o passar do tempo, foi necessário indicar algumas marcas pelas quais se pudesse distinguir a igreja verdadeira da falsa.

Havia um padrão da verdade ao qual a igreja deve corresponder, e reconheciam esse padrão na Palavra de Deus.


2. AS MARCAS DA IGREJA EM PARTICULAR.

a. A fiel pregação da Palavra. [Mt 28.18-20 – Evangelização e discipulado]
Esta é a mais importante marca da igreja. A fiel pregação da Palavra é o grande meio para a manutenção da igreja e para habilitá-la a ser a mãe dos fiéis. Que esta é uma das características da igreja transparece em passagens como:
  • Jo 8.31, 32, 47; 14.23; 1 Jo 4.1-3; 1Ts 5.21; Ap 2.2
Atribuir esta marca à igreja não significa que a pregação da Palavra na igreja terá que ser perfeita para que ela possa ser considerada como igreja verdadeira. Tal ideal é inatingível na terra; só se pode atribuir à igreja uma pureza "incompleta" de doutrina.

Uma igreja pode ser relativamente impura em sua apresentação da verdade, sem deixar de ser uma igreja verdadeir. Paulo escreve à igreja de Corinto, onde os pecados campeavam, emuitos deles eram mais vergonhosos e infames do que os produzidos pelos ímpios, contudo, ainda assim, o apóstolo se refere a ela como igreja, e aos seus membros como irmãos. 

Mas há um limite além do qual a igreja não pode ir, na apresentação errônea da verdade ou em sua negação, sem perder o seu verdadeiro caráter e tornar-se uma igreja falsa. É o que acontece quando artigos fundamentais de fé são negados publicamente, e a doutrina e a vida já não estão sob o domínio da Palavra de Deus.

E é a palavra de Deus que retém as instruções instituídas pelo próprio Deus e que devem ser cumpridas pela igreja – At 2.41-42.
[Esta passagem sugere a seguinte ordem: conversão, batismo, admissão à igreja local, andar ordeiro, observância da Ceia do Senhor e da oração coletiva]

b) Ordenanças: Ordem, lei, prescrição [1Co 1.2].
Que a reta administração das ordenanças é uma característica da igreja verdadeira, segue-se da sua inseparável conexão com a pregação da Palavra e de passagens como:
  • Mt 28.19; Mc 16.15, 16; At 2.42; 1 Co 11.23-30.

1- Batismo: Mc 16.15-16; Mt 26.19-20.

2- Ceia do Senhor – Lc 22.19-20; 1Co 11.23-26

C) O fiel exercício de disciplina.
É deveras essencial para a manutenção da pureza da doutrina e para salvaguardar a santidade dos sacramentos. As igrejas que relaxarem na disciplina, descobrirão mais cedo ou mais tarde em sua esfera de influência um eclipse da luz da verdade e abusos nas coisas santas. Daí, a igreja que quiser permanecer fiel ao seu ideal, na medida em que isto é possível na terra, deverá ser diligente e conscienciosa no exercício da disciplina cristã. A Palavra de Deus insiste na adequada disciplina a ser exercida na igreja de Cristo - Mt 18.15-18;

  • 1 Co 5.1-5, 13 [1Tm 1.20 e 2Co 2.4-11] – Igreja como proteção ao crente. Paulo parece dizer que aquele que é expulso do convívio da igreja está entregue a Satanás, ao mundo, estando sujeito a ele e sem a proteção do Corpo.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Cornélio - Um novo Pentecostes

Cornélio - Um novo Pentecostes (OC)
(Deverá “clicar” nas referências bíblicas, para ter acesso aos textos)


Nos tempos de Cornélio o mundo estava dividido em dois: o mundo judeu e o mundo gentio. Os judeus, como povo de Deus, consideravam-se superiores e julgavam que a revelação e a graça divinas eram destinadas exclusivamente a eles. Assim, tratavam os gentios como seres imundos, pagãos, indignos, e não se misturavam com eles. Viviam num mundo à parte. Havia como que uma barreira, uma “parede” de separação que os afastava deles.
Jesus veio. Como homem era judeu. Mas era também Deus e, como tal, viera ao mundo identificar-se não só com os judeus mas com todos os homens. A todos veio salvar, e foi por amor da Humanidade inteira que morreu e que ressuscitou. Ele veio desfazer barreiras: De ambos os povos fez um, derribando a parede de separação que estava no meio... Efésios 2:14. Anteriormente: mundo judeu - mundo gentio. Agora: um mundo apenas.
Com Cornélio foi feita a experiência piloto, o arranque inicial, a reconciliação de dois mundos pela cruz de Cristo. Vejamos: Deus comunica-se a Cornélio e a Simão Pedro. Deus vai ao encontro deles para levar a efeito o Seu propósito.
Cornélio era um gentio distinto, um cidadão romano, capitão da chamada “coorte italiana”, guarda-avançada do Império em terras da Palestina. Era um militar, um representante da autoridade terrena dominante. Ele personificava bem o mundo gentio.
O que parece estranho é o facto de aquele homem gentio ser piedoso e temente a Deus, um homem espiritual. Seria ele já um prosélito do judaísmo? Fosse como fosse, e apesar de todas as suas qualidades, ele precisava de Jesus. As esmolas que dava não eram tudo. A oração que fazia era apenas um primeiro passo. Um primeiro passo porque a oração põe-nos em contacto com Deus. E ali estava Cornélio orando, em jejum, às três horas da tarde. Ele buscava a Deus. E Deus se-lhe revelou através de Pedro.
Ao meio dia, estando Pedro a orar num terraço, teve fome. E, num êxtase, viu descer do céu comida: carne de diversos animais. E uma voz lhe dizia: Mata e come! Mas eram animais imundos! No entanto, Deus lhe disse: Não faças tu imundo ao que Deus purificou! Qual o significado desta visão? Que queria o Senhor dizer a Pedro? A resposta não se fez esperar. Vêm os emissários de Cornélio, e o Espírito diz a Pedro que vá com eles. E ele vai. Vai, apesar de todos os preconceitos, pois ele sempre tinha pensado que o Evangelho era também monopólio dos judeus e que os gentios não tinham acesso ao Reino de Deus. Mas... não faças tu imundo ao que Deus purificou!.
Ao chegar, Cornélio lança-se a seus pés, mas Pedro diz-lhe: Levanta-te, porque eu também sou homem! E começa a explicar: Vós bem sabeis..... istonão é lícito. (vr.28) ... mas Deus mostrou-me ! Ah grande Pedro, que é capaz de passar por cima da tradição e de sufocar o preconceito secular, só porque Deus lhe mostrou que isso estava errado ! E Pedro contou. Contou como Deus se-lhe tinha manifestado, no terraço, em oração. E concluiu: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas. Esta era a grande verdade nova: não há favoritismo, não há segregação. Oportunidades iguais para todos, tratamento igual para todos.
A raça não conta. Nem o passado, nem a família, o dinheiro ou a posição social, a profissão ou a cultura. Deus ama a todos sem distinção.
Finalmente Deus integra novos homens no Seu Reino. O anúncio do Evangelho foi feito com clareza: incluía a morte expiatória de Cristo, a Sua ressurreição e o apelo à fé para perdão de pecados. E mais uma vez Deus interveio. Houve conversão de almas. Cornélio e os que com ele estavam, abriram-se para Jesus, e o Espírito Santo entrou neles dando um sinal que constituía um prolongamento do Pentecostes: falaram línguas glorificando a Deus. Era o início duma nova era, a abertura da porta aos gentios. Havia que selar este acontecimento, integrando-o no plano universal de Deus.
As línguas do Pentecostes Actos 2 são um sinal de que o Evangelho é para todos os povos, de todas os idiomas. Isso devia ficar ali bem patente. Não foi um novo Pentecostes mas uma extensão ou ressonância desse facto histórico que foi a descida do Espírito Santo. Se houvesse ainda alguma dúvida, ter-se-ia dissipado.
O Senhor estava a aceitar aqueles gentios, primícias de muitos outros, no Seu Reino. E foram baptizados (baptismo da água), como exteriorização simbólica dessa grande realidade espiritual que é o baptismo do Espírito Santo.
Foram quatro dias decisivos: oração, visão, testemunho, conversão, baptismo.
Afinal, Cornélio somos também nós. O Evangelho é para nós. Para os gentios. E Deus vem ao nosso encontro.
Mas Pedro, somos nós também. Nós, testemunhas de Cristo, dependentes de Deus em oração e acção, sensíveis e flexíveis à vontade do Senhor. E se o não somos ainda, sejamo-lo a partir de agora.

Leiria – Portugal

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A justiça de Deus

INTRODUÇÃO

Não se pode falar do atributo da justiça de Deus sem relacioná-lo com a sua santidade. Tenho que Deus somente pode ser justo por ser absolutamente santo; e a sua justiça é derivada da sua santidade, não como um atributo isolado e independente [apenas para efeito de comparação, visto os atributos divinos se comunicarem plenamente em seu ser], mas como uma necessidade inevitável da sua santidade. É como se a santidade necessitasse de um complemento a fim de ser distinguida, identificada; seria, guardadas as devidas proporções, as impressões digitais que identificam Deus como o ser santo. Ela se afigura como uma consequência natural do ser absolutamente santo de Deus, ou seja, ele tem de ser justo, pois, se assim não fosse, iria contra a sua santidade. A justiça comprova que Deus é santo, e a sua santidade confirma a sua justiça [Sl 145.17]. Sem a justiça, creio que a santidade estaria incompleta; mas isso valeria para qualquer atributo divino, os quais se interligam e se complementam perfeita e maravilhosamente. Com isso não estou dizendo que exista uma ordem de precedência entre elas, que tivessem surgido em momentos diversos, pois, como sabemos, Deus não está sujeito ao tempo visto ser eterno, e o eterno não tem o seu caráter moldado ou privado pelo tempo, estando além dele. Os efeitos temporais não têm nenhum poder sobre Deus, por isso que todos os seus atributos são igualmente eternos como o seu ser é eterno.

Contudo, pode-se dizer que a justiça divina se aplica no tempo; e ainda que ela sempre existisse, deu-se a conhecer a partir da Criação, mais especificamente quando Deus estabeleceu os preceitos pelos quais o homem deveria manter-se obediente e fiel à sua lei, sem a qual não conheceria a santidade nem a justiça divinas. O que reforça o ensino bíblico de que a Criação, antes de tudo, tem por objetivo exaltar e glorificar o Senhor, e é através dela que Deus pode ser conhecido em seu esplendor e perfeição intocáveis.

O que nos leva a reconhecer que qualquer "justiça" fora dos padrões estabelecidos por Deus como justos são injustos. E o que determinará o valor da justiça não pode ser outra coisa além do próprio Deus, visto ser ele santo e não haver nenhum padrão de santidade fora dele. Até mesmo a santidade dos seus filhos adotivos é fruto daquilo que Deus faz neles, e assim podemos dizer convictamente que somos santos porque ele nos fez santos; somos santos porque ele é santo; e, finalmente, somos santos porque ele quis que assim fôssemos para a sua glória. Sendo que muitas vezes o mundo reconhecerá a santidade divina através da nossa santidade, numa glória impossível ao homem se não fosse pela vontade e obra do Santo e Justo. A mais tênue demonstração de justiça dos homens nada mais é do que o reflexo da justiça divina, sem a qual não há a menor chance de existir.

Outro ponto é que não se pode falar em justiça alheio aos preceitos santos estabelecidos na Lei divina. Apenas o Justo poderia elaborar e determinar o que venha a ser justiça; e qualquer tentativa de estabelecê-la à margem da Lei somente implementará a injustiça. Tem-se que no mundo moderno e pós-moderno, dogmas e certezas dão lugar ao ceticismo e à dúvida, num reconhecimento evidente da impossibilidade humana de constituir adequada e ordeiramente um padrão apropriado para se instituir a justiça. Na verdade, extemporaneamente, o homem vive de guerrear contra ela, pelo próprio senso de injustiça que traz em si, decorrente da sua natureza pecaminosa. Como se provou em sua mente que é impossível organizar independentemente um sistema justo, após rejeitar o bom conselho divino, coube à humanidade caminhar célere em prol de um sistema onde a injustiça se normatizasse. E o ponto de partida foi o abandono da Lei, e, por Lei, refiro-me a todos os enunciados feitos por Deus em sua palavra que coíba o pecado e puna o pecador; pois nada há mais injusto do que eles. Quando se afirma que a justiça é algo inteiramente subjetivo e as medidas do justo seriam variáveis de grupo para grupo ou até mesmo de pessoa para pessoa, temos que a medida do justo, dada por Deus, tornou-se ilegítima, e o homem encontra-se perdido em meio ao delírio de uma verdade e realidade meramente particular a conflitar com outras verdades e realidades particulares, que se alteram até mesmo em um único indivíduo; de forma que o que lhe parece justo hoje pode não ser amanhã e nem ter sido ontem. Fazendo-o cada vez mais escravo da sua própria injustiça.

Se reconhecemos que Deus é santo e justo, tem-se que a sua Lei também é santa e justa. Se ele é eterno e a sua vontade é eterna, também a Lei, como parte da sua vontade, é eterna. O mesmo vale para a eleição e redenção dos salvos. Não há contingência em Deus, nem poderia haver, pois se houvesse, Deus não seria Deus. Portanto qualquer afirmação de que um único preceito divino possa não ser justo, torna o seu acusador no mais injusto de todos os homens, pois a justiça, assim como a santidade, é um atributo inerente à sua natureza, sem o qual ele não seria quem é. Assim diz o salmista: "Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos" [Sl 119.137].

Por outro lado, dizer que a justiça é uma virtude humana [como pensam teólogos humanistas e liberais] é negá-la como virtude divina; é mentir duplamente e ser duplamente injusto. Ainda que o homem tenha "momentos" de justiça, ela provém do Senhor. Por isso é um dos seus atributos comunicáveis, mesmo que o homem o exerça parcial, imperfeita e temporariamente. 


O TRATO JUSTO DE DEUS COM OS HOMENS
Neste ponto, faz-se necessário afirmar o que seja justiça. No Direito, se utiliza a frase de Ulpiano, jurisconsulto romano, para defini-la: "Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu" [1]. Parece-me vago e inconcludente essa definição, pois nem mesmo se sabe de quem deve ser a constante e firme vontade de dar, como definir o que é e o que não é do indivíduo. Podemos elencar muitas coisas como sendo o "seu", mas certamente essas coisas variarão tanto de pessoa para pessoa como de cultura para cultura e de tempos em tempos. Logo, é uma formulação subjetiva e inadequada, na incerteza de seu próprio conteúdo. Aristóteles diz que: "Uma vez que o transgressor da lei é injusto, enquanto é justo quem se conforma à lei, é evidente que tudo aquilo que se conforma a lei é de alguma forma justo". Os termos do filósofo grego parecem-me muito mais objetivos e mais próximos do conceito bíblico de justiça; a qual é, em suma, considerar justo quem está em conformidade com a lei, ou seja, aquele que é obediente e zela por ela; e também aplicar a lei quando alguém se rebela contra ela. Como a lei é a manifestação da vontade divina, todos os homens devem andar então em conformidade com a sua lei. 

Novamente frisarei que, para mim, a lei é todo o preceito que Deus estabeleceu e enunciou em sua santa palavra. Não apenas os mandamentos mosaicos na forma da letra, mas aquilo que ele inscreveu em nossos corações, a consciência do pecado que significa toda e qualquer atitude, pensamento ou desejo que vá contra a santidade divina. Paulo diz que "assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" [Rm 7.12]. A lei é santa como reflexo da santidade divina, derivada dela, assim também ela é justa, como o próprio Senhor é justo e diz a Israel:"E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?" [Dt 4.8]. Também é por ela que tomamos o conhecimento do pecado, e de que, ao cometê-lo, estamos em flagrante desobediência a Deus [Rm 3.20].

E é este ponto que nos interessa mais detidamente, a justiça relativa de Deus para com os homens. Por relativa não se quer dizer que é o oposto de absoluto, mas de exprimir uma relação na qual todos os homens se reportam a Deus como a autoridade suprema, e a quem todos estamos subordinados. Como diz o Dr. Heber Campos, "é a justiça que se manifesta no dar a cada um conforme os seus merecimentos" [2].

Antes de prosseguirmos, faz-se necessário alertar que Deus é o Senhor de toda a criação, e de que ele exerce o seu governo sobre bons e maus, justo e injustos, e todos os homens estão debaixo de suas leis. Afirmar a injustiça de Deus em nada ajudará o infrator. Ele é a autoridade máxima, e acima dele não há qualquer outra. Nem mesmo a vontade do homem pode demovê-lo de exercer o seu domínio e poder soberanos. Deus é Deus e, por isso, é quem faz as regras, sempre segundo a sua vontade santa, perfeita e reta, em conformidade com o seu ser absoluto. Quer se queira ou não, quer se esperneie ou não, o homem deve satisfação a Deus, e ele será recompensado e cobrado no devido tempo segundo o que fez.

É notório ao cristão bíblico que todos os homens nascem em pecado, e suas obras são indignas, e jamais nenhum de nós poderá reivindicar justiça com base em seus próprios méritos diante de Deus, visto que as suas obras sempre o condenarão.

Esse ponto é importante pois a definição de justiça relativa [aqui, especificamente, tratamos da sua subdivisão, a justiça remunerativa, aquela através da qual Deus recompensa os seres racionais, homens e anjos, segundo o que fizeram de bom], pode levar ao engano de se imaginar que Deus absolverá alguém ou o considerará inocente por alguma coisa que ele faça, por uma justiça própria e meritória. Não. Por ser pecador e miserável, todos os homens, sem exceção, estão debaixo da Lei e pecaram e serão por ela julgados, de forma que todo mundo é condenável diante de Deus [Rm 3.23,19]. Por isso Deus, em sua graça, misericórdia e providência, determinou que o seu Filho Amado, Jesus Cristo, fosse dado em expiação por muitos, para que fossem justificados diante dele, como prova do seu amor [Rm 5.8]. Não há outro meio ou forma do homem não ser condenado. A única justiça que o Senhor reconhece é a realizada pelo seu filho, na cruz, para todos e sobre todos os que creem [Rm 3.22]. E assim, justificados pela fé no sangue do Senhor Jesus, temos paz com Deus, e somos poupados, somos salvos da sua ira [Rm 5.1, 9], e alcançamos a reconciliação [Rm 5.11].

Temos que Deus somente justifica e absolve o homem através da morte de seu Filho e apenas por ela. Sendo a prova da sua graça e bondade para com aqueles que ele amou eternamente, e pelos quais fez manifestar a sua infinita e gloriosa justiça, estando livres do juízo de morte e justificados para a vida. Pela obediência de um único homem à Lei de Deus, aqueles que também foram amados eternamente serão feitos justos [Rm 5.19]. Mas nada disso, como se vê, pode ser creditado ao homem, nem mesmo os atos bons que ele pratica, nem as boas ofertas que dá. Davi compreendeu como ninguém o que ele e o seu povo eram, e como careciam da bondade e providência divina para fazerem o que era bom aos seus olhos, e de que nem ele ou algum dos seus súditos tinham do que se orgulhar diante de Deus, visto que tudo que lhes era dado retribuir, era fruto daquilo que o próprio Deus dava-lhes: "Porque quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos oferecer voluntariamente coisas semelhantes? Porque tudo vem de ti, e do que é teu to damos. Porque somos estrangeiros diante de ti, e peregrinos como todos os nossos pais; como a sombra são os nossos dias sobre a terra, e sem ti não há esperança. Senhor, nosso Deus, toda esta abundância, que preparamos, para te edificar uma casa ao teu santo nome, vem da tua mão, e é toda tua" [1Cr 29.14-16].

Apenas pela sua vontade, e como cumpridor das suas promessas, Deus se faz devedor ao homem; não porque recebeu algo de nós, mas porque ele prometeu que nos daria segundo as condições que ele estabeleceu, e que realizou por nós. Temos a impressão de que cumprimos a sua vontade voluntariamente, como se não houvesse em nós nenhuma outra motivação além do desejo de servi-lo e honrá-lo, mas como seríamos capazes de dar algo a Deus que ele primeiro não nos desse? De certa forma, é engraçado que além de recebermos o suficiente para dar a ele, ainda seremos recompensados por isso, sendo que não há mérito algum em nós, e nem mesmo somos dignos de alguma honra. O que se revela é uma grande oportunidade para bendizê-lo, louvá-lo e glorificá-lo por tão grande graça e misericórdia e bondade para conosco, servos inúteis, que fazemos apenas o que devemos fazer e que nos foi ordenado realizar [Lc 17.10].

Mas, e o que acontecerá aos que não foram justificados por Cristo e por ele não foram salvos?


A IRA DE DEUS
A ira divina é a justa e perfeita manifestação de Deus diante do pecado. É a sua resposta necessária ao pecado, sem a qual a sua santidade e perfeição ficariam comprometidas. Veja bem, se Deus não se irasse e revelasse indiferença ao pecado, não seria Deus; ele não pode pactuar com a injustiça, sendo o Justo. A ira é uma das condições essenciais do seu ser e, portanto, é também uma perfeição divina, através da qual ele infligirá castigo aos que violarem a sua palavra e vontade. Para eles, não há misericórdia; ele não pode deixar de puni-los, de lançar sobre eles a sua severidade, tal qual o profeta diz: "O Senhor é Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos." [Na 1.2]. Com isso, estou a dizer que o caráter divino, o seu ser perfeito, não o seria se em Deus a ira não se manifestasse. Ela é a resposta divina ao fato dele ser santo e justo.

O primeiro ponto é que a ira de Deus se manifesta sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, "que detém a verdade em injustiça" [Rm 1.18]. Acontece que a ira e o castigo divinos não fazem parte da pregação atual. Por uma visão distorcida de que os homens são bons em sua natureza e essência, muitos consideram falsos os versos bíblicos que exortam o homem a não se rebelar contra Deus, antes deve obedecê-lo, pois do contrário, a ira do Senhor estará sobre ele. Há um falso evangelho sendo pregado, e que tem levado muitos a manterem-se na impiedade, batendo às portas do inferno. Não é preciso que se cometa algum crime atroz para fazer parte desse grupo. O simples fato de não se sujeitar a um mínimo preceito divino, podendo ser, até mesmo, a mera rejeição da sua justiça, implicará na impiedade e injustiça. Deus tem de ser glorificado pelo que ele é, o Senhor de tudo e todos, a autoridade absoluta e perfeita em todos os seus atributos.

É interessante que as criaturas cada vez mais se consideram aptas a fazerem de Deus réu. Acreditam que estão num patamar tão superior que podem tecer críticas, zombar e escarnecer daquilo que nos foi revelado em sabedoria e retidão. Há um desejo crescente de se criminalizar a Deus, fazendo da sua palavra um simples livro de códigos imorais e desumanos. Mas, ó homem, quem és tu que replicas a Deus?, já dizia Paulo. Quem o fez senhor e juiz? Quem investiu-lhe da autoridade que julga ter? Novamente, temos o pecado se manifestando na mente e lábios dos que se consideram, em sua vaidade e soberba, superiores a Deus. Podem não concordar abertamente com esse rótulo, mas o desejo latente de independência os faz amotinados e rebeldes. Essa tentativa de independência sempre significará a incompatibilidade com o que é santo e justo e a compatibilidade com o pecado e a injustiça, em que ambos se toleram mutuamente, e seus desejos se combinam e permanecem conciliados.

A ira divina é algo presente na Escritura, e o próprio Deus não se envergonha de proclamá-la [Dt 32.39-43; Ex 22.22-24; Rm 1.18]. Por que então temos brios em anunciá-la, ao mesmo tempo em que contemporizamos com o pecado? Penso que a ira divina e a certeza do seu juízo estão presentes em nossa consciência, como algo que Deus nos legou. Sabemos que ela é justa, mas a nossa natureza não se conforma a ela, por isso tenta negá-la ou ocultá-la a fim de não haver barreiras ao pecado, deixando-o agir livremente, sem restrições, e não sermos acossados pela ideia de uma merecida punição. O engano nos faz acreditar que Deus, em algum momento, se arrependerá daquilo que prometeu, e não cumprirá a sua palavra: de que todo o pecado será castigado e os pecadores sofrerão na carne pelo mal que praticaram. Deus é fiel em tudo o que promete, e não abrirá exceção para o derramar a sua ira. É o que o apóstolos diz: "Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo" [Hb 10.30-31].

Contudo, os cristãos podem irar-se?

Há uma ideia de que o crente deve ser "paz e amor". Este lema foi muito utilizado pela contra-cultura nos anos 1960, a era "hippie", em que as pessoas se preocupavam exclusivamente consigo mesmas, com o seu prazer, e em negar toda a cultura ocidental judaico-cristã. O pecado não era o cometido individualmente por cada um deles, seja no uso de drogas, no sexo livre, na ociosidade, na idolatria e culto a deuses pagãos, mas na sociedade e na igreja como mantenedores de uma ordem cristã hipócrita, em que se defendia a moral e a ética e se condenava o pecado, mas que não passava de um discurso, enquanto a maioria se entregava mesmo aos desejos da carne. Eles pensavam que escancarando ao mundo a sua própria impiedade, este mundo deixaria cair a máscara e se mostraria como realmente era. Ao invés de se empenharem na construção de um ideal verdadeiramente justo, tomaram o caminho oposto, como se colocar o dedo na ferida pudesse curá-la. Certamente não havia o menor interesse em cura, mas o empenho de se esfregar limão e pimenta na chaga. Não passando de outra justificativa para o pecar livremente e sem culpas. Em outras palavras, eles se especializaram em agir exatamente naquilo em que condenavam, a hipocrisia, pois com a desculpa de se "desnudarem" apenas serviam ao propósito dissimulado de se apegarem mais e mais ao próprio pecado.

Então é que entra a questão da ira, a qual é demonizada pela maioria dos cristãos. Quando muito, consideram-na uma prerrogativa apenas de Deus, estando vedado aos homens. Mas, é realmente isso? Paulo nos exorta a irar e não pecar [Ef. 4.26], indicando que não é todo o tipo de ira que se transforma em pecado. Um exemplo de ira santa nos foi dado pelo Senhor Jesus ao expulsar os cambistas e vendilhões do templo [Jo 2.13-17]. Mas, e para nós, quando é justo irar-se e não? Penso que há uma linha tênue que delimita a ira santa e a ira pecaminosa. Como estamos mais sujeitos a adentrar do outro lado da linha, não é prudente o estímulo ao irar-se. Facilmente nos iramos quando vemos uma injustiça. Quando vemos o pecado campear livremente. Quando a palavra de Deus é desprezada. Quando Deus é escarnecido e insultado pelos tolos. A Bíblia diz que todos eles, se não se arrependerem dos seus pecados, serão condenados e afligidos eternamente pela ira divina. E podemos deixar a vingança para o Senhor, como ele mesmo nos orienta, a descansar e confiar nele. Mas normalmente não nos iramos quando somos nós a cometer o pecado e a injustiça, antes nos tornamos condizentes com o nosso erro, com o de familiares e amigos. Contemporizamos, nos fazemos de vítimas, e encontramos as explicações mais espúrias para justificar o injustificável, e nos enganos em nosso próprio senso de [in]justiça. Ao invés de nos irar contra o próximo, contra o pecado alheio, por que não experimentamos primeiramente irar-nos contra o nosso próprio pecado e contra nós?

Entendo que o "irar-se" é menos uma ordem e mais uma concessão divina, enquanto o "não pequeis" é um imperativo. Na maioria das vezes, os motivos da nossa ira são ofensas e injustiças cometidas contra nós mesmos. Há uma nítida intenção de retribuir a afronta, de restaurar a honra. E não há como proceder assim sem ser levado a pecar, basta lembrarmo-nos das reações, imprecações e insultos que realizamos em nome de uma pretensa justiça. Pois nos ressentimos facilmente diante de uma provocação.

Portanto, entendo que o cristão não pode ser "paz e amor" em relação ao pecado, especialmente ao pecado pessoal, às tentações que se nos apresentam diariamente e que consentimos em presenciá-las, consumando o pecado. Essa é a nossa guerra, a nossa luta diuturna, na qual não podemos dar trégua, antes irar-nos e atacá-la francamente, pois ela é ofensa à santidade de Deus. Devemos deixar a justiça para o Senhor, e aqueles que ele estabeleceu como seus ministros, as autoridades que são seus instrumentos para castigar o que faz o mal [Rm 13.4].


Iremos pois, e não pequemos; é a ordem do Senhor.